Pedro e Janderson contam a comovente história em busca do sonho de aumentar a família e se tornarem pais biológicos

Eu e Pedro nos conhecemos há 14 anos em Governador Valadares. Um amigo em comum marcou um encontro e ali já começamos a namorar. Tudo aconteceu muito rápido e naturalmente. Três meses depois decidimos morar juntos.
Eu não imaginava como nossas vidas mudariam ao longo dos anos.
Decidi recomeçar a minha vida em Governador Valadares e não mais voltar para o Espírito Santo, minha terra natal. Logo me estabilizei profissionalmente e nossa relação foi se fortalecendo, tanto que assim que foi sancionada a lei de união estável entre pessoas do mesmo sexo, há cerca de dois anos,
Nos casamos com direito a cerimônia e festa.
Percebi já no início que ele tinha vontade de ter filhos. Eu não achava tão interessante – talvez por ser muito novo. Mas mudei minha forma de pensar depois de algumas viagens para a Europa. Conhecemos muitos casais com filhos, principalmente em Tel Aviv.
Esse formato de família se encaixou pra gente e despertou a minha vontade.
Um dia, um casal de amigos israelenses que morava em São Paulo nos apresentou a uma agência especializada em fertilização e fomos até Israel. Foi bem complexo e demorado, mas achamos uma doadora da África do Sul com o material genético que parecia ideal para nossos sonhos. Parte dos óvulos dela foi fecundada com meu sêmen e outra parte com do Pedro. Duas tailandesas foram contratadas como barrigas de aluguel e depois de algumas tentativas, elas estavam gerando nossos filhos.
Um misto de ansiedade, emoção e preocupação tomou conta de nós a partir daí.
Fizemos várias viagens para a Tailândia e acompanhamos toda a gestação delas. Nasceram todos bem. Primeiro as gêmeas Luisa e Valentina, hoje com nove meses, e logo depois o Vitor, que está com cinco meses.
Foi uma das maiores sensações de minha vida, nossos filhos mudaram todos os nossos valores. Somos totalmente responsáveis pelo desenvolvimento deles. Pensem em banho, alimentação, remédios, carinho… Só quando a gente vive um sentimento assim é que reconhece o quão poderoso e inexplicável ele é.
Minha relação com Pedro é cada dia mais sólida. Somos um só, sempre unidos. Nossa família só existe dessa forma. E temos a certeza de que o sucesso dessa empreitada está diretamente ligado ao apoio fundamental de nossas famílias. Estamos encantados também com a reação das pessoas: até hoje, nenhum ato discriminatório chegou até nós.
Sou natural de Mantena, interior de Minas Gerais, e quando cheguei em Governador Valadares o Janderson já morava na cidade. Começamos um relacionamento sólido e com o passar do tempo era natural falar em futuro juntos e pensar em uma vida que não fosse só festas e viagens.
Sempre tive e expus a ideia de ter filhos, mas não sabia como fazer isso. Barriga de aluguel era algo fora de minha realidade. Quando soubemos como era o processo, Janderson se empolgou. Era o start que eu precisava. Começamos um trabalho de pesquisa bem intenso e planejamento financeiro para que tudo desse certo. Tudo começou quando escolhemos o perfil da doadora. Apesar de ainda não termos nenhuma garantia, neste dia já brindamos com muita alegria.
Foi como se a gente encontrasse metade dos seres humanos que seriam nossas almas gêmeas alguns meses depois.
Começamos a envolver as nossas famílias, explicando aos poucos todos os passos e logo uma das meninas engravidou.
Descobrimos que eram gêmeas.
Na sequência, o outro óvulo também estava fecundado em outra barriga. Começamos então a nos preparar para o que vinha pela frente.
Eu achava que a ansiedade e o nervosismo aumentariam com a proximidade dos partos, mas a vontade de que tudo desse certo era maior.
Ao receber as nossas crianças experimentamos algo que jamais idealizamos: o amor incondicional e acima de qualquer expectativa.
Viramos notícia. A repercussão foi enorme. Nós tínhamos vários motivos para falar publicamente e disseminar informações sobre o assunto, um deles era o fato de sermos precursores dessa iniciativa no Brasil.
Não questiono nenhum formato de família, pois isso não garante sucesso nem felicidade. O determinante mesmo é o amor, o zelo.
Com o tempo, nossas crianças vão saber de cada passo que nós demos para a maior realização de nossas vidas – e isso independe de uma figura feminina.
E já que o normal para eles será o amor entre dois homens, teremos toda atenção e cuidado para explicar como são as famílias compostas por casais de homem e mulher.
Não saberia fazer nada sozinho. Descobrimos juntos o que é ser pai. É chegar em casa, com milhões de problemas e, em um passe de mágica, tudo se transformar em felicidade e amor. É um sonho realizado – e ele só foi possível porque o dividi com meu marido.
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